quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Edição de 'Argo' faz a diferença


     Fazer um filme de política utilizando fatos históricos e torná-lo acessível ao grande público, sem que ele seja entediante, é inquestionavelmente um grande desafio. Até mesmo alguns dos clássicos do estilo, como “Hotel Ruanda”, dirigido por Terry George, falham em alguns pontos, principalmente quando tornam o filme muito denso e com um difícil, muito demorado, desenvolvimento do enredo.
Filme de Ben Affleck ganhou o prêmio de
Melhor Filme e melhor Montagem (Oscar 2013)
    Vencedor do Oscar de melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor edição, Argo, de Ben Affleck, mais conhecido por seus trabalhos como ator, dentre os quais se destacam alguns fracassos retumbantes, como Demolidor (2003), transmite inicialmente a sensação de que esse pode ser mais um filme extremamente sério e com uma montagem parada e densa.
    Baseado em fatos reais, o filme se passa no ano de 1979, em um Irã em conflito com a chegada ao poder do aiatolá Khomeini. Como o antigo xá ganhou asilo político nos Estados Unidos, que haviam apoiado seu governo de opressão, há nas ruas diversos protestos, e num deles a embaixada do norte-americana acaba invadida. Seis diplomatas americanos escapam pouco antes da invasão e se refugiam na casa do embaixador canadense, onde vivem sob sigilo, enquanto a CIA cria um plano mirabolante e improvável para tirá-los do país: a produção de um filme falso de Hollywood.
    A ideia de criar um falso estúdio que iria filmar uma cópia barata de Star Wars é uma sacada que permite bastante alívio cômico à trama. E para nos lembrar, que por mais absurda que seja a história, ela de fato aconteceu, o diretor sempre mostra manchetes da época, ratificando sua história e convencendo o espectador da veracidade dos fatos.
    “O filme ‘Argo’ parte de imagens feitas feita para o filme, e em meio dessas imagens, eles inserem imagens de arquivos, reforçando a ideia de realismo que acaba montando a imagem da época, trazendo para a realidade”, afirma o professor de cinema da UniBrasil, Paulo Camargo.
    Fernando Severo, coordenador do Curso de Cinema do Centro Europeu, explica que a edição de um filme é importante para dar ritmo e fluência a uma narrativa fílmica, sendo indispensável para manter o espectador interessado na história e em plena compreensão da mesma. Ele também comenta quais os méritos de Ben Affleck e da edição do filme, que o fizeram merecedor do Oscar e do Bafta: “A edição deve traduzir a leitura que o diretor faz do roteiro e respeitar seu estilo, o que o editor de Argo faz com perfeição”, comenta Severo. “A edição de Argo é muito precisa e econômica, trabalhando muito bem a tensão crescente do roteiro”, completa.
    Curiosamente, o editor do filme, Willian Goldenberg, concorria também ao Oscar de melhor montagem pela edição do filme "A Hora Mais Escura", que fez em parceria com Dylan Tichenor.
    Há de se destacar, ainda, o fato de Argo não trazer um bonzinho e um vilão, mas sim um universo onde todos defendem os seus direitos. Os detalhes de fotografia e figurino também são admiráveis. No intuito de intensificar o clima dos anos 70, Affleck filmou com película comum e ampliou as imagens em 200% para aumentar a granulação, resultando em um efeito espetacular.